No trabalho que faço com jogos e brincadeiras sempre busquei tratar do lugar das brincadeiras na aprendizagem e socialização das crianças e nunca busquei tratar da importância desta experiência para os adultos. No último dia 13 de novembro participei em Pedro Leopoldo (MG) de um encontro com profissionais da Educação Infantil. O encontro é parte do projeto Infancia Ideal, parceria entre a Empresa Camargo Corrêa, a prefeitura da cidade e as Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo.
O encontro durou um pouco mais de uma hora. Chovia bastante mas apesar disto pudemos realizar muitas brincadeiras. O grupo (em torno de 60 pessoas) era constituído por profissionais que não eram professores ou educadores, desta forma não poderia dizer que o brincar constituía parte do seu cotidiano, sua ferramenta de trabalho, ou algo parecido. Mesmo assim, não pude deixar de observar a intensidade como homens e mulheres se envolviam nas brincadeiras, a sensação de êxtase, alegria e descontração presentes nas expressões e depoimentos dos participantes.
Se alguém me perguntar o motivo do titulo do artigo, digo que durante o encontro pensei muito naquilo que motivava as pessoas a brincarem e percebi que o resultado daquela brincadeira era belo, trazia beleza aos olhos e ao espírito e a experiencia estética vivida era muito semelhante a de qualquer outra forma de expressão artística que já vivi como a dança, a música, o teatro. Como dizia Shiller, o jogo e belo é uma forma de vida...
Na conversa com os participantes tive alguns insigts e agora passo a compartilhar com vocês. A primeira constatação é a de que não podemos reduzir a brincadeira a apenas uma produção das culturas infantis. Não estamos aqui menosprezando o papel destas últimas na preservação e perpetuação das brincadeiras, mas existe um outro lugar em que elas ainda estão vivas, pulsantes: nas memórias e vida dos adultos. Mesmo que há muito tempo não brinquem, elas ainda estão lá. Para mim a brincadeira muito mais que uma produção das culturas infantis é uma forma de linguagem, de registro de nossas experiências, que são ao mesmo tempo pessoais e culturais.
As brincadeiras trazem a vida condensadaO tempo da brincadeira é um tempo dentro do tempo. O tempo não para mas temos a sensação de um tempo alargado. O tempo da brincadeira não é o tempo da fábrica, muito menos o tempo da TV ou da escola. É o tempo do ócio, o tempo inútil, não-produtivo, não visa um fim ou um produto. Talvez esteja relacionado a forma como vivemos esta experiência.
As brincadeiras não desaparecem quando nos tornamos adultos, acredito que elas se modifiquem tornam-se outra coisa. Elas saem do nicho da infância para se disseminarem em nossas redes de sociabilidade. Se as brincadeiras nos ensinam práticas de sociabilidade, como devemos tratar o outro, estabelecendo códigos de convivência entre as pessoas estariam os elementos das brincadeiras presentes de alguma forma mesmo que não mais a reconheçamos como tal no dia-a-dia de nossas relações sociais.
Por fim, conversamos sobre quem ensina quem a brincar. Por ser uma prática que não foi criada pela escola mas sim apropriada por ela, os mestres da brincadeira não são exclusividade dos professores. É mestre quem se propoe a brincar com as crianças, falar de sua infância, reconhecer e garantir a infancia das crianças de hoje.
A experiencia foi muito gratificante! Um abraço a todos que aceitaram o convite de participarem da oficina naquele dia. Espero reencontrá-los.
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