No último sábado, dia 03 de julho, estive pela primeira vez na Escola Municipal Professora Juverci de Freitas Ferreira. É uma CEMEI, fica no Bairro Amazonas próximo a praça dos Trabalhadores, região de industrias, na divisa de Contagem e Belo Horizonte. A escola foi a pouco tempo reformada (prometo trazer as fotos) e 14 professoras participaram do encontro.
Em nossa conversa de formação, apresentei as professoras uma idéia (ainda um ensaio) onde procurava entender qual a importancia as instituições de educação infantil davam ao brincar da criança. Isto porque, apesar de todo o esforço dos últimos 20 anos por construir uma política de implementação da educação infantil e, apesar de toda pesquisa produzida sobre a importancia das brincadeiras para a criança, existia um movimento na educação infantil por priorizar outras áreas do conhecimento, tratando o brincar como algo "de menor prestígio". Escolhi deliberadamente a expressão "de menor prestígio" porque a teorização de Pierre Bourdieu sobre o capital cultural e sobre a teoria da reprodução social talvez nos ajudasse a melhor entender o que ocorre dentro das instituições infantis. Na teoria do capital cultural o que está em disputa é a distinção cultural, ou seja, dentro de uma determinada sociedade democratica, prevalecem aspectos de hierarquização e de manutenção do poder através daquilo que é valorizado pela escola mas que não se aprende nela, que somente algumas crianças trazem de casa, isto é, "o habitus" cultural da classe dominante. Neste sentido, assistimos ao brincar sendo caracterizado como um conhecimento de menor prestígio, algo sem valor em comparação a, por exemplo, aprender a ler e a escrever. Mesmo que a criança traga o brincar como uma vivência anterior ou paralela a escola, ele é um conhecimento por si que pretensamente todos teriam acesso. Esta distinção "brincar mais do que" não teria valor social algum pois não traria vantagem alguma àquele que o detém. O brincar está associado a uma prática cultural disseminada na sociedade que as crianças aprendem sem necessariamente passarem por uma escola. É algo do doméstico, que pode ser aprendido em casa. Do lado do professor, o brincar não teria prestigio quando questiona-se se de fato é necessário uma formação para brincar com as crianças. Agora, aprender a ler e a escrever, isto sim seria conhecimento de prestígio e distinção. É algo que as famílias das crianças de classes populares não podem oferecer, algo de valor que elas buscam a todo o custo na escola mesmo que sacrifiquem a própria infância de seus filhos. Só assim para entender porque os pais são muitas vezes os que mais resistem a proposta de trabalho das Escolas infantis quando cobram das mesmas que elas ensinem seus filhos a ler e escrever aos 3, 4 anos de idade. Não discordo da idéia de que as crianças por direito devam ter acesso ao conhecimento sobre os diversos tipos de textos e a todo um patrimônio produzido pela humanidade de culto à infância: a literatura produzida para a criança, a poesia, as parlendas, o teatro, as músicas. Tudo isto são aspectos que envolvem um processo de letramento da criança. Agora, isto não justificaria transformar a Educação Infantil numa turma de alfabetização.
Em nossa conversa, as professoras se queixaram desta resistencia por parte dos pais para entender a proposta da escola, quando priorizavam o brincar e o processo de socialização das crianças. Acredito que talvez também faltem as escolas assumirem de forma mais orgânica esta tarefa, no sentido do brincar se tornar um dos eixos do projeto: Cuidar, Educar e Brincar, como diria Adriana Friedmann, pesquisadora do campo de jogos e brincadeiras infantis. Em nossa conversa, argumentei a favor do brincar como uma importante área de conhecimento sobre a criança, que articula com seus processos de socialização, sobre como ela produz conhecimento e se desenvolve. É uma pratica cultural da infância importante para a formação da criança e que exige do professor uma intensa formação. Sobre este tema, importantes pesquisadores se debruçaram (Piaget, Vygotisky, Luria, Leontiev, Winnicott,Freud, Melaine Klein, Huizinga, Benjamin, Corsaro, Bateson, Brougére, Kishimoto, Wasjkop, Friedmann, Debortoli, entre tantos outros, brasileiros e estrangeiros) mas muitos professores desconhecem sua importancia para construção de uma proposta para a Educação Infantil.
Minha opinião é que uma discussão do brincar na educação Infantil deveria ir além da idéia inicial (é a primeira coisa que as professoras pedem, em muitos momentos a única) de suprir as professoras com musicas e brincadeiras novas para as crianças. A formação deveria se constituir sim, num espaço para avaliar e refletir qual é o lugar da bricadeira no espaço da educação infantil e temas sobre "o que a criança aprende enquanto brinca", "como garantir um projeto voltado para o brincar pleno da criança", "quais os desafios a escola enfrenta para garantir o brincar da criança".
como mesmo anuncia Bourdieu em seu livro "A Reprodução": "de um ovo nasce sempre um passaro. Para romper com essa cadeia de reprodução infinita deste modelo é preciso quebrar os ovos e fazer uma omelete!"
um abraço, Rogerio Correia.
UFMG EDUCATIVA: entrevista brinquedos e brincadeiras e formação da criança
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FAZ ASSIM! CANTORIAS E BRINCADEIRAS INFANTIS
OUÇA AQUI AS PRIMEIRAS MÚSICAS DE NOSSO CD: produção: Claudio Emanuel, Marilza Máximo e Rogério Correia Direção Musical: Silvia Lima e Christiano Souza Oliveira
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Despedida/ Samba mais eu
territorio do brincar
MUSICAS E APOSTILA DA OFICINA BRINCANTE
segunda-feira, 5 de julho de 2010
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Um comentário:
Olá, Rogerio.
Tentei postar um comentário sobre as minhas experiências de Oficineiro e não consegui.
Acho que está longo demais.
Vou tentar lhe enviar por e.mail
e, se aprovar, pode postar.
Grande abraço.
T+
Joba
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